domingo, 16 de novembro de 2014

Crítica: Débi & Lóide 2

Repetição pode divertir sim!

Por Pedro Strazza

Assim como em todos os outros gêneros (mas exponenciado por dez) a comédia encontra diferentes tipos de gosto no público que procura fazer rir com seus esquetes e trocadilhos, e pode-se enxergar isto nas variadas classificações dadas em cima de uma mesma obra cômica. Politicamente correto e incorreto, humor negro, comédia do ridículo, do cotidiano, do exagero... são muitas as medidas criadas pelos especialistas para especificar estes trabalhos, elaboradas com base em características comuns destes filmes e geradoras de diversas discussões acaloradas entre os seus autores. E quando eles parecem estar enfim de acordo com alguma coisa, um novo longa vem e reacende o conflito acadêmico.
Dentre estes produtos cinematográficos encontra-se Débi & Lóide - Dois Idiotas em Apuros, que como seus diretores (os irmãos Peter e Bobby Farrelly) é capaz de gerar opiniões muito contrastantes nos críticos e no espectador. Amando ou odiando, porém, é inegável que o filme marcou época, colocando os dois cineastas sob o holofote e consagrando a carreira de Jim Carrey e Jeff Daniels, seus dois protagonistas. Agora, exatos 20 anos depois do sucesso comercial da produção, o quarteto - quase todos em baixa no mercado (a exceção é Daniels, em destaque por seu trabalho na aclamada The Newsroom) - volta com a continuação das aventuras de Harry e Lloyd, muitos mais velhos e ainda tão burros e ingênuos.
A lógica do roteiro escrito a seis mãos de Débi & Lóide 2 segue a mesma de outras várias sequências do gênero, que é a de copiar em quase tudo o original. Com exceção das motivações em jogo, toda a estrutura do longa de 94 está lá: a viagem de carro, os vilões com propósitos mesquinhos, a mocinha em perigo e alvo da admiração de um dos protagonistas, as viradas previsíveis e, claro, as loucuras proporcionadas pela dupla protagonista. Tudo parece preguiçosamente recauchutado e em diversos momentos idêntico ao primeiro capítulo, mas os Farrelly, assim como em toda a sua carreira, conseguem desviar a atenção do espectador deste problemaço através das gags que inundam a produção.
E isso só é possível graças ao trabalho conjunto dos atores principais em fazer rir pelas atitudes mais idiotas impossíveis. Em sua meia-idade, Daniels e Carrey voltam a incorporar os personagens com a mesma facilidade que fizeram quando mais jovens, e executam com primor os simples esquetes visuais e os trocadilhos verbais pedidos pelo roteiro. A química das atuações da dupla funciona de forma magnífica, e tudo em cena - incluindo coadjuvantes, cenários e situações - torna-se uma piada para eles rirem e o público se entreter com sua ingenuidade arrogante.
Mas como em toda continuação, há defeitos visíveis demais para serem ignorados. Além da semelhança absurda com seu antecessor, o longa sofre de maneira pontual com piadas nada engraçadas, que se acumulam de forma vergonhosa no final. O terceiro ato, por sinal, sacrifica sem necessidade o humor para resolver a trama repleta de furos (afinal, quem seria tão burro a ponto de... hum, esquece), e assim torna-se facilmente entendiante.
Apesar de não oferecer a mesma experiência proporcionada pelo antecessor, Débi & Lóide 2 é um filme que realiza o mesmo tipo de humor com o uso dos mesmos elementos do original. E isso é ótimo. Se no ano das continuações cômicas viu-se exageros bem-sucedidos em Anjos da Lei 2 e Tudo por um Furo, a sequência do primeiro trabalho dos irmãos Farrelly encanta pela repetição sem vergonha e a diversão prometida desde o início.

Nota: 8/10

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