terça-feira, 22 de julho de 2014

Crítica: Transformers - A Era da Extinção

A Era do Exagero, segundo Michael Bay

Por Pedro Strazza

O processo pelo qual o ser humano aprende a contar histórias é sempre o mesmo. Quando crianças, gostamos de partir logo para o que interessa e criar cenários de brigas épicas ou romances melosos, mas sem pensar muito em como essas situações foram geradas e satisfazendo apenas a si mesmo. À medida que crescemos, no entanto, essa tendência ao imediatismo é substituída pelas noções básicas da narrativa, e aprendemos progressivamente o quão bom é construir um enredo para gerar a catarse coletiva que buscávamos quando pequenos. E no fundo é isso o que a grande maioria das equipes criativas do universo do entretenimento querem: reproduzir no outro (o público) a mesma sensação que obtiveram com aquilo.
Esse desenvolvimento, porém, parou ainda na primeira parte para Michael Bay. Amado por alguns e odiado por muitos (mesmo!), o diretor, como uma criança mimada de cinco anos, sempre coloca a satisfação pessoal antes da dos outros em suas produções, mas tenta apresentar um mínimo de coerência nestas para que o público volte aos cinemas para arcar com suas caríssimas despesas - Um de seus filmes mais baratos, Sem Dor, Sem Ganho, custou 26 milhões, por exemplo.
Esta particular relação diretor-espectador, entretanto, não é a mesma com Transformers. Sucesso de bilheteria e constantemente bombardeada pela crítica, a franquia baseada nos bonecos da Hasbro tornou-se com o tempo para Bay uma espécie de playground milionário onde ele poderia exercer seus desejos cinematográficos superficiais sem qualquer risco de fracasso. E a cada novo capítulo da saga de combates entre robôs esta tendência só cresceu, culminando agora neste A Era da Extinção, que serve como uma espécie de recomeço para a série.
Passado cinco anos depois dos acontecimentos de O Lado Oculto da Lua, o quarto capítulo da franquia toma como ponto de partida a batalha de Chicago do último filme, usada como justificativa pelo departamento de segurança clandestina do governo estadunidense para caçar os alienígenas, sejam eles Autobots ou Decepticons. Procurado pelas autoridades e severamente ferido, o líder Optimus Prime (Peter Cullen) acaba sendo encontrado e acolhido pelo fracassado cientista Cade Yager (Mark Wahlberg) e sua família. A calmaria não dura muito tempo, porém, e logo Optimus, Yager e suas respectivas famílias estão sendo perseguidos pelo governo e por Lockdown (Mark Ryan), um Transformer caçador de recompensas.
O simples início de enredo de Transformers 4, entretanto, logo se envereda por uma série de conspirações - que incluem até inteligências artificiais, um assunto recorrente em Hollywood ultimamente -, que revelam uma trama ainda mais... simples. Ao contrário de seu último trabalho na franquia, Bay e o roteirista Ehren Kruger não procuram (apesar de conseguirem em alguns momentos) complicar demais a história de A Era da Extinção para evitar maiores (e complicadas) explicações. Como crianças, a dupla quer aqui é emendar cenas de ação em cima de mais cenas de ação, fazendo com que suas criaturas digitalmente caiam na porrada enquanto proferem frases de efeito.
Neste ponto é até possível enxergar algum progresso na franquia. Ao contrário dos outros três filmes da franquia - que privilegiavam os protagonistas Optimus e Bumblebee em detrimento de seus companheiros -, houve em A Era da Extinção um maior cuidado na concepção visual dos Autobots secundários. Ainda que apresentem perfis estereotipados, os designs robóticos e a maior presença de tela de Hound (John Goodman), Drift (Ken Watanabe) e Crosshairs (John DiMaggio), além do trabalho de voz de seus respectivos dubladores, possuem diferenças entre si suficientes para que o espectador os diferencie nos sucessivos combates.
A necessidade pungente de Bay em só filmar ação, porém, paga o preço em A Era da Extinção justamente pelo exagero usado na película. Interessado exclusivamente por agradar a si mesmo, o cineasta leva ao extremo aqui todas as suas características e maneirismos, distribuindo-os em 165 minutos de intensidade altíssima e, erroneamente, constante - algo que rapidamente desprende o espectador dos acontecimentos e torna a experiência cinematográfica do filme em algo um tanto chato. E como não trabalha um pouco as situações apresentadas ou sequer cria pausas para respiro, nem mesmo a tardia aparição dos Dinobots (sem dúvida o grande chamariz da produção) consegue mais chamar a atenção do público, exausto de tantas cenas de ação mal filmadas e alívios cômicos irritantes.
Outro erro gravíssimo (são vários, mas alguns se destacam) de Bay é o núcleo humano. Esperto em não trazer novamente os dramas repetitivos do Sam Witwicky de Shia LaBeouf, o diretor nem se dá ao trabalho de apresentar um protagonista humano interessante na figura de Yager, tornando os dramas que envolvem ele, sua filha Tessa (Nicola Peltz) e o "futuro" genro Shane (Jack Reynor) desinteressantes e incômodos - Além de incoerentes, como é possível identificar em vários momentos do longa. E se nem nos protagonistas humanos houve algum cuidado, o que dizer do restante, dominado pelos estereótipos mais preconceituosos possíveis (e que incluem até um Steve Jobs genérico personificado por Stanley Tucci???)?
Previsível em sua trama, genérico em suas lições de moral, cansativo por essência, Transformers - A Era da Extinção é um verdadeiro festival de erros e exageros, orquestrados por um Michael Bay infantil que se orgulha de conseguir a divertir a si mesmo. A grande pergunta que se chega após o fim da sessão, contudo, não é como ele ainda consegue alcançar altas bilheterias com uma franquia de qualidade questionável (pessoalmente, vou apenas pela diversão gerada pelos seus erros), mas sim a que ponto ele terá de chegar para que as pessoas parem de ir no cinema para vê-lo brincar.

Nota: 3/10

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