sexta-feira, 20 de junho de 2014

Crítica: Transcendence - A Revolução

O Ela blockbuster que não deu certo

Por Pedro Strazza

A ficção científica é um gênero que possui duas camadas básicas de desenvolvimento em seu roteiro: A visual e a filosófica. Na primeira, cria-se um mundo onde um ou mais fatores, fundamentados na ciência, alteram o rumo histórico da civilização, devido a um benefício (ou malefício, em alguns casos) que o ser humano, no mundo real, ainda não conseguiu alcançar, chamando a atenção do espectador no processo; No segundo nível, a produção cinematográfica utiliza desse universo estabelecido e dos personagens que o habitam para criar uma discussão acerca de um conceito humano-social básico presente em nossa sociedade, gerando no público, por sua vez, uma reflexão interna e externa sobre o assunto.
Complementares, estas duas linhas de raciocínio são vitais para que uma obra de ficção científica tenha um mínimo de profundidade e qualidade, e, se bem elaboradas e trabalhadas, podem vir a ser a principal razão de sucesso do produto. Assim, não se concebe como surpresa o fato de Transcendence - A Revolução ser um filme tão fraco, visto que sua proposta falha justamente em pontos primordiais do gênero.
Estréia de Wally Pfister (diretor de fotografia da trilogia O Cavaleiro das Trevas e de A Origem) na direção e de Jack Paglen no roteiro, o filme mostra a história de Will Caster (Johnny Depp), um cientista que procurar em suas pesquisas criar uma inteligência artificial. Brilhante e introvertido, Caster acaba por sofrer um atentado planejado por uma organização anti-tecnologia que o deixa com pouco tempo de vida graças aos efeitos de uma bala de polônio (não procure entender isso, sério). À beira da morte, ele decide, em acordo com sua esposa Evelyn (Rebecca Hall) e seu amigo Max (Paul Bettany), copiar sua memória para o seu projeto de vida, perpetuando seu intelecto para a ciência e sua personalidade para a mulher.
O debate que o longa procura estabelecer no público a partir de sua premissa é claro: Como fica a noção de consciência, tão discutida na história da filosofia, aplicada no contexto do surgimento das novas tecnologias e do desenvolvimento vindouro de inteligências artificiais? A partir de qual momento poderemos estabelecer que estas IAs tem uma identidade? E a partir dessa ocasião, podemos considerá-las como humanas? Estas questões, problemáticas em diversos níveis e curiosas em diversos aspectos, poderiam sozinhas sustentar a estrutura do roteiro de Paglen, mas aqui são rapidamente descartadas em prol de frases de efeito duvidosas e discussões que sempre são encerradas na base do grito. No fundo, Transcendence apenas repete na tela tópicos de conversa buscando uma profundidade para si, mas não chega a realizar isso de fato.
E se no nível filosófico a produção se atrapalha demais com a aparência, no visual se faz catastrófico. Conceitos são atirados a todo momento sem nenhuma explicação, personagens desaparecem e reaparecem quando necessários - e são porcamente desenvolvidos quando em tela, como é possível observar nas motivações de Max para querer combater a IA do melhor amigo -, a fotografia é chapada e sem inspiração (Um grande problema aqui, visto que o diretor era responsável por este departamento em trabalhos anteriores!)... Nada contribui para tornar o filme interessante ao espectador. Nem mesmo o elenco, que, composto por ótimos atores como Depp (completamente ausente em sua atuação), Bettany, Morgan Freeman, Kate Mara e Cillian Murphy, está canastríssimo e limitado aos perfis superficiais do roteiro.
Com tanto potencial no assunto que aborda, Transcendence - A Revolução falha fragorosamente por escolher concentrar seus esforços em uma história sem nenhum brilho ao invés de se aprofundar na discussão - Algo que Ela, por exemplo, fez ao contrário tão bem. Muita coisa é inserida, mas nenhuma parece ser digna de ser desenvolvida pela produção.

Nota: 1/10

2 comentários :

O elenco executa um bom trabalho. Este thriller de ficção científica mais de 100 minutos, eu gostei. Transcendence é um filme estranho e muito futurista que eleva a curto prazo um futuro muito sombrio para toda a humanidade. A coisa interessante sobre este filme é o debate e o dilema moral que surge quando se discute os limites da ciência e tecnologia. Transcendênce é o primeiro filme que fez Wally Pfister, diretor de fotografia de quase todos os filmes de Christopher Nolan.

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