terça-feira, 4 de março de 2014

Crítica: Tudo por um Furo

Will Ferrell e sua patota partem para o non-sense sem exagerar demais

Por Pedro Strazza

Já fazem quase dez anos da estréia de O Âncora - A Lenda de Ron Burgundy e só agora que sua continuação, Tudo por um Furo, chega às telas. De humor ácido e debochado, o longa de 2004 não foi um sucesso imediato de público, mas alcançou progressivamente o status de cult no panorama recente da comédia, motivando os responsáveis pelo projeto, Adam Mckay e Will Ferrell, a escrever assim essa sequência que, mesmo sendo ainda mais exagerada que o original, carrega todos os alicerces criados há uma década.

Dessas bases, a mais vital - e que separava O Âncora de outras comédias pastelão, portanto - é a sátira aos meios de comunicação, que ganha na continuação uma visão ainda mais alfinetante. Se Ferrell e Mckay exploram no original a inclusão da mulher em um mercado de trabalho machista, a dupla analisa em Tudo por um Furo os problemas da disponibilização de notícias a uma velocidade absurda, que acabam muito mais desinformando o público a informá-lo, e a "mídia do entretenimento", criada apenas para aumentar os índices de audiência com suas perseguições de carro e matérias extremamente superficiais, duas questões relevantes para o jornalismo atual.

A crítica à comunicação, entretanto, não é o grande foco do filme, mas sim suas situações cômicas, coisa que Ferrell e Mckay sabem fazer muito bem. E como no filme de 2004, Tudo por um Furo entrega esquetes hilariantes e exagerados, protagonizados em sua maioria pelo quarteto formado por Ferrell, Steve Carell (este especialmente inspiradíssimo e alucinado), Paul Rudd e David Koechner, bastante confortáveis em se divertir novamente com seus personagens. O maior acerto da continuação, por sinal, é saber realizar uma versão ainda maior do primeiro longa nesse quesito, mas sem cair no humor bobo e repetitivo - apesar de cometer algumas dessas equívocos em alguns momentos.

Mas os acertos na acidez e no humor não eximam o filme de cometer falhas, e elas são várias. Além de repetir piadas feitas em alguns momentos, o roteiro de Tudo por um Furo é muito mal trabalhado, servindo apenas para ligar os esquetes e os cenários, mesmo que fazendo nenhum sentido no processo. A transposição de Ron Burgundy (Ferrell) para o farol, por exemplo, é feito de maneira completamente porca e inverossímil.

A ligação do âncora com sua família é também bastante subaproveitada nesse sentido. Não é necessário, claro, nenhum arco dramático, pois o filme não tem esse propósito; Falta, porém, alguma conexão maior da mulher e filho de Ron no contexto geral da trama para que suas participações no final surtam maior efeito emocional no protagonista - e ao público, logo. O papel de Veronica (Christina Applegate), aliás, reduziu-se muito do primeiro para o segundo longa a ponto de se tornar dispensável para o roteiro, como pode ser visto claramente no artificial triângulo amoroso formado por ela, Burgundy e a empresária Meagan (Linda Jackson).

O roteiro defeituoso e a repetição indevida em alguns momentos não tiram da obra, porém, a sua capacidade de fazer o público rir e se divertir. O humor do filme e o sarro com a mídia são muito bem feitos, e o elenco está à vontade e disposto a fazer o que sabe de melhor. Não é à toa, portanto que existam mais duas versões de Tudo por um Furo com piadas completamente diferentes da lançada; O filme é nada mais que humor non-sense desenfreado, tanto para o espectador quanto para a produção - E não há cena que comprove melhor isso que o clímax, o mais absurdo e hilariante do cinema recente de comédia.

Nota: 8/10

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