sábado, 22 de fevereiro de 2014

Crítica: Robocop

Padilha ousa criar novos caminhos para Murphy, mas respeita as fundações do original

Por Pedro Strazza

Hollywood desde sempre tem uma tendência a se repetir pelos remakes. Fonte fácil de lucro, essas famosas refilmagens americanas de clássicos nacionais e internacionais tendem a dividir o gosto do público por causa justamente da oscilação criada na qualidade final desses projetos. O que separa as novas versões de Vingador do Futuro e Carrie - A Estranha das de um Cabo do Medo e Scarface, portanto, é o cuidado e o respeito tomados pela equipe criativa na hora de atualizar a trama do original e/ou inventar novos caminhos para a história. Já justificar estas produções é um outro assunto.

O que nos traz ao polêmico remake de Robocop, o clássico e inovador filme de ação de 1987 de Paul Verhoeven. Dirigido pelo brasileiro José Padilha, o longa teve um duro caminho até sua estréia, sendo imensamente criticado e apedrejado, a cada vídeo e arte divulgada, pelos fãs do original, cuja principal reclamação seria a de que o filme não carregaria o mesmo nível de violência (A refilmagem tem classificação indicativa baixa), intensidade e crítica político-social.

Esse grupo obviamente estava certo, mas não inteiramente. Apesar de não trazer a qualidade e inovação absurdas do longa original, o Robocop de Padilha consegue trazer novas ideias para a história de Alex Murphy (interpretado agora por Joel Kinnaman) sem tirar da obra de Verhoeven suas principais fundações subjetivas e tendo assim seus próprios méritos.

A comparação entre as duas versões já parte do perfil de seus diretores. Ao contrário de Verhoeven, que gosta de analisar em suas produções tanto o lado social quanto político, Padilha prefere em seus filmes focar suas críticas nos altos escalões do poder, mostrando diversos ângulos de uma mesma questão. E assim como em seus dois trabalhos anteriores - os conhecidos Tropa de Elite 1 e 2 - este tópico se repete em seu Robocop: Deixam-se de lado as visões do comportamento do público dessa distopia futurista para acompanharmos, sob várias perspectivas, os debates políticos entre a OmniCorp e o governo sobre o uso de robôs no patrulhamento das ruas dos EUA e do mundo - fato este que cutuca no recente debate do governo americano sobre o uso de drones no país e nos conflitos exteriores.

A partir disso a direção de Padilha começa a se ramificar em várias discussões envolvendo a ética da profissões, cada uma personificada por uma peça do intrincado tabuleiro de xadrez político. Do médico que tenta salvar seu paciente a qualquer custo aos policiais corruptos, passando pelo departamento de marketing oportunista e frio e a mídia manipuladora e extremamente tendenciosa, o filme vai criando a cada momento comparações com o cotidiano urbano atual, mas sem entrar de fato na crítica social. O foco aqui é nos poderosos e suas teias de controle, não na população controlada por estes.

Mas se por um lado essa decisão afeta positivamente na caracterização própria do remake, o olhar político de Padilha acaba esquecendo de desenvolver com melhor cuidado a história de seu protagonista, diminuindo assim sua autonomia e relevância para o contexto subjetivo do filme. Se no original o público se identifica com o detetive Murphy, na nova versão o seu drama de perder praticamente tudo (inclusive o corpo) é esvaziado, e a participação maior de sua família na trama, mesmo curiosa, torna-se irrelevante.

Outro problema perigoso (e oriundo do esvaziamento descrito acima) desse novo Robocop são suas cenas de ação. Mesmo não sendo o foco da produção - de novo, estamos falando aqui de um filme político - e tendo uma filmagem interessante na mão do brasileiro, que usa de câmeras termais e noturnas para realizá-las, falta nos tiroteios uma empolgação maior pelos eventos mostrados ali. Sem isso, tira-se do público a tensão e torcida pelo protagonista, pilares fundamentais para se poder envolver com Alex Murphy. Além disso, essa frieza na ação prejudica o ato final do longa, que além de confuso não causa nenhuma catarse eufórica.

Comparando as versões de Padilha e Verhoeven, a primeira perde força por não trazer ao público um protagonista tão interessante quanto o original. O remake sozinho, porém, promove a discussão de questões bastante importantes em nossa sociedade atual como o longa de 1987 soube muito bem fazer na sua época - e até hoje. O novo Robocop pode não ser o melhor das refilmagens e de fato não é uma obra atemporal, mas com certeza é um trabalho digno de respeito.

Nota: 7/10

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