quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Crítica: Frozen - Uma Aventura Congelante

Um conto de duas irmãs

Por Pedro Strazza

Em termos de animação, a produção cinematográfica dos estúdios Walt Disney sempre foi marcada pela oscilação. Principalmente após a morte de seu fundador, os filmes da empresa alternam-se entre boas e más fases, ponderadas sempre pela emoção que estes causam esse público. É o que difere clássicos, como O Rei Leão, de produções medianas, a exemplo d'O Caldeirão Mágico, e não o salto tecnológico, como ocorre em outras produtoras.

O estúdio demorou a aprender essa lição. Após ter brilhado nos anos 90 com longas como A Bela e a Fera e o próprio Rei Leão, a Disney passou grande parte dos anos 2000 fazendo filmes cuja temática era absurdamente vazia, mas com animações de última geração para a época. Em 2009, entretanto, a empresa inaugurou uma nova fase em sua história com A Princesa e o Sapo, prometendo retomar a produção de alta qualidade pela qual a Disney sempre foi reconhecida e diferenciada dos outros. O problema era que, até aqui, esses filmes, apesar de excelentes, não conseguiam chegar à meta proposta por sempre faltar o elemento mais importante do estúdio: a emoção.

Esse foi o maior desafio de Frozen - Uma Aventura Congelante, 53° animação da empresa e 12° produção das Princesas Disney, que adapta para as telas mais um dos vários contos de Hans Christian Andersen. Na história, conhecemos Elsa e Anna, duas irmãs que, embora cresçam isoladas no mesmo castelo, são tratadas de maneiras diferentes por seus pais e, posteriormente, pelos empregados. Enquanto a primeira é isolada em seu quarto para esconder seus poderes mágicos e evitar que uma maldição ocorra, Anna passa os dias brincando solitária no lar, desejando ver a irmã e entender os motivos dela não sair de seus aposentos. A situação, porém, muda quando chega o dia da coroação de Elsa, e após uma sequência de eventos o reino de Arendelle acaba preso num inverno eterno. Cabe a Anna, então, a tarefa de reverter essa situação e fazer as pazes com sua irmã.

A princípio, a primeira impressão que Frozen passa a seu espectador é que a trama que se desenrolará a partir daí esteja repleta de clichês típicos da Disney, como a aparição do Príncipe Encantado como salvador da pátria ou os elementos de humor com pretensões a se tornarem o centro do interesse do longa ao invés da história principal. Esse aparente rumo óbvio dos acontecimentos, entretanto, logo se dissipa, e o roteiro escrito por Jennifer Lee mostra nesse momento a que veio, brincando o tempo todo com as certezas antes tão definidas do público.

Os "plot-twists" não são, porém, o maior atributo do filme, mas sim o foco dado ao complicado relacionamento das duas protagonistas. O drama de Anna para entender o porquê de sua irmã ter se distanciado dela e o de Elsa para aceitar seus poderes e aprender a viver livre novamente são extremamente fortes e ditam o ritmo e a trama do longa, mas ainda assim são passados de maneira sutil e funcional para que o seu público-alvo - as crianças - consiga acompanhar. Os pequenos tem, por sinal, todos os motivos para adorar Frozen, pois a produção apresenta diversos momentos de humor na figura de Olaf, o boneco de neve criado pelas princesas que "adora abraços quentinhos".

Mas se por um lado Olaf é um excelente personagem cômico, os trolls são um pequeno problema. Exagerados e sem motivos para estarem ali além de unir segmentos da história, os seres de pedra acabaram por ficar extremamente artificiais no universo estabelecido, e sua participação poderia ter sido substituída por uma figura menos caricata. Além disso, não fica claro na trama a extensão de seus poderes, e isso acaba se estendendo para a magia de Elsa, que em instantes deixa de mexer apenas com gelo para conjurar patins e outros.

Esses pequenos errinhos, entretanto, acabam não fazendo muita diferença para o resultado final obtido ao final do filme. Ao procurar brincar com os rumos previsíveis e fazer do filme um conto de duas irmãs, ao invés do típico conto de fadas, a Disney consegue finalmente entregar a seu espectador uma produção digna de se tornar clássica, usando apenas de seu elemento mais importante e mágico.

Nota: 10/10

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